domingo, 7 de setembro de 2014

Relacionamento entre os Pioneiros Imigrantes Alemães e Italianos

                             
 Os imigrantes germânicos e os italianos mantiveram boas relações entre si e seus descendentes. Não houve registro de fatos desarmoniosos, mesmo durante a 1ª guerra mundial (1914-1918), pois ao final desse conflito comemoraram com atos religiosos.
Consoante Fortini, os imigrantes italianos “a princípio procuravam mantimentos em Feliz, na casa de um tal Kaspary”; (FORTINI, 25) indicativo de bom relacionamento comercial entre os europeus.*
 Os pioneiros imigrantes germânicos e os italianos, mesmo após instalados nos seus chalés no Vale do Sinos, Vale do Caí, ou no 1º Distrito Milanês, Nova Vicenza, Campo dos Bugres, Conde D’Eu, Princesa Isabel, Alfredo Chaves e demais colônias desbravadas, lembravam com tristeza das suas tumultuadas viagens marítimas, as intempéries enfrentadas, longas caminhadas, fome, frio e perdas sofridas no percurso. 
Durante 14 meses o governo forneceu vales alimentação aos primeiros imigrantes italianos, no valor diário de 700 réis (em 1950 correspondiam a 70 centavos), exceto às crianças menores de 12 anos e os maiores de 65 anos de idade, todavia não existiam vales para a saúde (FORTINI, 25) e sequer havia médicos na região. Tais fatos exigiam solidariedade e amparo por parte dos habitantes das colônias alemãs mais próximas das italianas (Alto Feliz e São Vendelino).
O Bispo Dom Barea, em sua obra corrobora o fato da ausência de parteiras e médicos na região serrana para atender a população, relatando que "sem parteiras e sem médicos, numa época em que a falta de higiene e de toda a comodidade era a nota característica, viu crescer ao seu redor filhos sãos e robustos”.( BAREA,15)
A região germânica também carecia de médicos, condição que levou os alemães a cultivarem suas hortas no fundo do quintal,** com seus temperinhos e chás. Alguns conhecimentos sobre chás foram adquiridos ainda na Europa e outros, foram ensinados pelos indígenas,(ROSA e Pe. GOGULSKI, 38-60)*** que por sua vez mastigavam as folhas das plantas tirando a essência das ervas para curar, ou amenizar as dores.
Em 1875, ano da chegada dos primeiros imigrantes italianos, os germânicos, já habitavam a encosta inferior do Nordeste, há cerca de trinta anos e distribuíram algumas mudas de chás aos vizinhos serranos, entre eles:(conforme Padre Franco e Professor Fontana,119-170) camomila (para aliviar cólicas e calmante); capim cidró (calmante, febre); erva cidreira/melissa (calmante, insônia); malva (gargarejos/inflamação); boldo (fígado); guaco (gripe); hortelã (cólicas/calmante); losna (estômago, bílis); funcho e erva doce (cólicas infantis); maracujá (calmante); sene (prisão de ventre);  macela ou marcela (estômago). Os imigrantes alemães aprenderam dos indígenas, que os chás de folhas de pitangueira, ou os brotos das folhas da goiabeira aliviam a diarreia e cólicas intestinais; folhas de chuchuzeiro (para baixar a pressão) e uma infinidade de outros chás. Para se prevenirem da gripe e outras doenças contagiosas da época, mastigavam dentes de alho, ou tomavam bálsamo alemão, em jejum. Os resfriados eram tratados com “escalda pés”, chá e suador.
Quando iniciou o núcleo de Nova Vicenza (Farroupilha) os comerciantes germânicos, vindos de Alto Feliz e Feliz, instalaram-se próximo ao centro, no meio dos imigrantes italianos. Embora de origens e línguas diferentes, rapidamente se entrosaram.
Contudo, independentemente de raça, ou de credo, centenas de enlaces matrimoniais realizaram-se entre nubentes germânicos e italianos, provando que o amor vai além das origens.

Conforme  Livro “Imigrantes Alemães”, fl 188 (1853), do Museu e Arquivo Histórico Visconde de São Leopoldo/RS: Johann e Nicolau Kaspary (filhos de Elisabeth Dresch), migraram do antigo reinado da Prússia para o Brasil e em 26/10/1846 foram morar na localidade de Santa Catarina da Feliz. Conforme pesquisas realizadas no Search Family, Cartório do Registro Civil de Feliz e arquivos da Mitra Diocesana de POA., os Kaspary da região do vale do Caí são descendentes de Johan Kaspary e Suzana Heil, que eram os genitores de Mathias Kaspary, casado (em 04/11/1871) com Maria Klöckner (filha de Pedro Klöckner e Joana Berwanger). José Kaspary era filho de Mathias e era casado com Mathilde Klering, genitores de Egon, Orlando, Querino, Ivo e Edgar Kaspary.   
** As hortas eram cercadas por paus, ou bambus, amarrados com cipós, para evitar a entrada de animais daninhos.
*** ROSA e Pe. GOGULSKI, 38-60: Com as plantas medicinais os indígenas  também preparavam pomadas, que eram socadas com um pilão e a essência obtida era misturada com a gordura de tatu, paca, veado, ou porco do mato.
Rosa Maria B. Kaspary
Pesquisadora e poetisa

Um comentário:

  1. Olá Rosa Maria B. Kaspari, eu pesquiso a imigração alemã no RGS desde 2017 e achei esta tua postagem e a outra sobre a Linhas dos Boêmios. Eu escrevi um pequeno "ensaio" quase sobre o mesma tema em 2017 (https://wordpress.com/stats/post/521/familiafey.wordpress.com). Parabéns pelo teu trabalho.

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