terça-feira, 9 de setembro de 2014

As Primeiras Casas de Saúde do Vale do Caí e da Serra Gaúcha


Os imigrantes italianos entraram na selva com seus facões e foices, e, após, receberam outras ferramentas do Estado, para serem usadas na construção das casas, derrubada do mato e abertura dos poços e roças, entre elas as enxadas, pás, picaretas e machados.
Ao chegarem nos “barracões”, sentiam-se desorientados, sem remédios para tratarem os ferimentos e as doenças. Muitos chegavam ao destino com a “sola” dos pés em carne viva e cheia de espinhos. Encontravam-se abatidos da longa viagem marítima, má alimentação, noites mal dormidas, com dores musculares e nos tendões, decorrentes dos movimentos repetitivos da longa caminhada. Ficaram meses desamparados e o povo não estava preparado emocionalmente para viver sem hospitais, escolas, igrejas, banheiros e demais necessidades.
Para os imigrantes germânicos, que desembarcaram no porto de São Leopoldo e povoaram as colônias da encosta da serra, não foi muito diferente, todavia, foram se adaptando a nova vida. Os habitantes de Alto Feliz e arredores, passaram muitos anos completamente desassistidos de médicos e enfermeiros e somente por volta do ano de 1890 receberam o amparo do professor Artur Kaiser. Em face dos seus conhecimentos em primeiros socorros e enfermagem ficou conhecido pela população como “Doutor Kaiser”. A sua especialização era em pediatria e também manipulava medicamentos com a balança de precisão.
Naquela época os partos eram realizados nas residências das parturientes pelas parteiras: Frau Pina Klein, de Piedade (Trappsthal), Dona Ermelinda Lam (Frau Lam) de São Sebastião do Caí; Frau Klein de Alto Feliz, entre outras do Vale do Caí e região Serrana. Além de realizarem o parto, as parteiras prestavam os primeiros socorros à população e as “novas” também aplicavam injeções. Algumas acompanhavam o desenvolvimento dos bebês, e, quando se fazia necessário, auxiliavam as mães na recuperação pós-parto.
As "novas" parteiras, Olga Baumgarten, Maria Klein, Maria Boeni Tries e demais alunas treinadas pelas veteranas, reverenciavam o mestre das iniciantes, médico Dr. Gabriel Schlatter, que ministrava cursos de capacitação às parteiras, ensinando-lhes técnicas e cuidados com a higiene para lidar com as parturientes.
Passados mais de oitenta anos, da vinda dos primeiros imigrantes germânicos a São Leopoldo, e cerca de quarenta anos da vinda dos primeiros imigrantes italianos à “Primeira Légua Milanês” (Nova Milano), foram instalados os primeiros hospitais da região colonial.
A população comemorou e aplaudiu os corajosos médicos, que, se dispuseram a morar no interior, abrindo as suas casas de saúde próximas às colônias alemãs e italianas. Todavia, se tratavam de hospitais particulares, e, dessa forma, nada mudou à “classe pobre“, que contava moeda por moeda dos seus “réis” para a aquisição de sal, açúcar e seu modesto vestuário. 
Os colonos tinham por hábito andar de pés descalços e somente alguns tinham condições de adquirir sapatos, tamancos de madeira, ou chinelos de peles curtidas, feitos artesanalmente.
As Santas Casas de Misericórdia foram os primeiros hospitais brasileiros instalados nas capitais dos Estados e herdaram sua organização das instituições portuguesas de mesmo nome. “No final século XVI, já havia Santas Casas em todas as capitanias, com hospitais e asilos para idosos e desvalidos. Os religiosos assistiam também os presos, além de cuidar das crianças [...]”.(Barsa,v.13,p.82) O complexo hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre foi inaugurado em 21 de julho de 1808.
Rosa Maria B. Kaspary
Pesquisadora e poetisa






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