segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Luís Bugre

                                   LUÍS BUGRE
Em 1847, Luís Bugre foi adotado pela família de Matias Rodrigues da Fonseca,  portugueses, moradores da Colônia Feliz (Feliz/RS). Foi batizado na igreja católica de São José do Hortencio, com o nome de Luís Antonio; aprendeu a falar a língua portuguesa com seus curadores e a língua alemã com os vizinhos e amigos. Ao completar 20 anos de idade abandonou o lar português e passados alguns meses, retornou para apresentar a sua companheira, que era índígena, ou cabocla, com a qual morou durante anos na encosta do morro Canastra, em São Vendelino/RS. Por volta de 1870, após a fuga de Jacob Versteg (1) do cativeiro, Luís Bugre sumiu do lugarejo. [...]
GANSWEIDT, Matias José. DAMIÃO, Eugênio. As vítimas do Bugre. Porto Alegre: Selbach, 1946, p.40.
Nota: Meu bisavô paterno, Jacob Barth, imigrante alemão, carreteiro, transportou cargas do porto do Guimarães (São Sebastião do Caí/RS) a Nova Vicenza (Farroupilha/RS) e relatou aos seus descendentes, que seguidamente cruzava com Luís Bugre e sua matilha de cães de caça, pelas cercanias de Nova Milano. Alegava, que o “Buga” não era ruim. Apenas queria ser valorizado e rebelava-se ao ser discriminado, ou excluído. Apreciava falar sobre suas caças. 
Meu outro bisavô paterno, Francisco Xavier Boeni, imigrante suíço, morou em São Vendelino, foi vizinho da família Versteg e também conhecia Luís Bugre. Consoante Gansweidt,(p.69 e 79) Xavier foi integrante da primeira expedição de resgate dos Versteg. O sogro de Xavier, meu trisavô  paterno, "capitão" Carlos Schaeder, austríaco, agrimensor Imperial (Edital Jornal da Victória da Província do Espírito Santo de 01/07/1868), mediu os lotes da 3ª colônia (Garibaldi, Bento Gonçalves) e possivelmente também conhecia o  indígena.     
Meu trisavô materno, Frederico Otto Grunitzky (Kronitzky), ex-Brummer, imigrante de origem polonesa; em 1868, ano do sequestro dos Versteg, exercia a função de professor público (Campos Netto, p.488), maestro do coral de Santa Maria da Soledade (São Vendelino) e padre leigo (Kautzmann, Obra Montenegro de Ontem e de Hoje, fl 159). Indubitavelmente, conhecia detalhes das andanças de Luís Antonio pelo lugarejo e da mesma forma, meus bisavós maternos, Joseph Kronitzky e Maria Tiatton Dietrich (natural da República Tcheca), moradores da Linha Boêmia, local próximo a Nova Milano.  
Meu outro bisavô materno, Wenzel (Wenceslau) Wartha, imigrante austríaco, Capitão do Batalhão de Infantaria Imperial (Montenegro), contraiu núpcias com Khetrin Kellner, imigrante austríaca, em 1897 foi removido, com sua equipe, ao 5º Distrito - São Vendelino (Diário Oficial da União, exemplar nº 8979). De 1910 até 1924 foi subintendente de Santa Maria da Soledade (Campos Netto, p.456). A partir de 1913 cumulou a função de subintendente com a de subdelegado de Polícia de São Vendelino, Garibaldi (Campos Netto, p.465 e edital do Diário Oficial de 14/10/1913). Possivelmente, acompanhou parte da trajetória do indígena pela região.  
Obs. Na época era praxe a realização de casamentos entre os filhos de integrantes do Exército Imperial, líderes comunitários, professores,  comerciantes, agrimensores, ou administradores de colônias.                
Rosa Maria B. Kaspary
Pesquisadora, poetisa e advogada


                                   LUIS BUGRE
                                        Rosa Maria B. Kaspary
1.     No alto da serra, na selva
Nasceu um grande guerreiro
Com ares de sorrateiro
Na tez, tatuagem marcante
Jovem, coroado aspirante
Em sua tribo era parceiro.

2.     Nicuó, seu velho cacique
Ceji, a pajé da aldeia
Em noites de lua cheia
Vagavam em plagas distantes
Por roças dos imigrantes
Colhendo cultura alheia.

3.     Naquela noite funesta
Em fila indiana marchavam
Arcos e flechas portavam
Sem suspeitar da cilada
Que em Feliz foi armada
Nas plantações, que visavam.

4.     Roças de milho e mandioca
Com cordas foram cercadas
Pontas estavam ligadas
Na lata próxima ao leito
Com o tropeçar do sujeito
As bases foram acionadas.

5.     Donos munidos de rifles
Pelos arbustos rondaram
Cães em alvoroço, avançaram.
Com seus latidos e gritos
Ladrões ficaram aflitos
No rio Caí se jogaram.

6.     No milharal esqueceram
Um menininho lesado
Por alemães foi tratado
Foi-lhe nomeado tutor
Um audacioso senhor.
Ficou aportuguesado.


                      Véu da Sina (Luís Bugre)
                      Rosa Maria B. Kaspary
1.    Luís Antonio era seu nome
      Durante sua adolescência
      Somou uma vasta experiência
      De ir à roça, não gostava
      Com sua tribo negociava
      Ia à serra com frequência.

2.   Trocou mel, peles e aves
                 Por espelhos, sal e cachaça
                 Exibia as peles da caça:
                 Seu orgulho, suas vitórias
                 Os parceiros dessas glórias              
                 Eram doze cães sem raça.


3.   Foi morar em São Vendelino
                 Já com vinte anos de idade
                 Com a parceira, sem vaidade
                 No Canastra, na encosta.
                 A família não era exposta
                 Se isolou da sociedade.

4.   Ao seu chão, Campo dos Bugres
                  Com frequência retornava
                  Pelos matos se encontrava
                 Com os compadres e parceiros
                 Corresselva, aventureiros
                  Novidades lhes contava.

5.   Com o sequestro dos Versteg
                  Luís Antonio se ocultou
                 Temeroso, se mudou
                 À selva, em Nova Milano
                 Num rancho de chão serrano
                 Onde um mestre se tornou.

6.   Na demarcação dos lotes
                  Auxiliou agrimensores
                  Foi o guia dos senhores
                  Conduziu-os a Farroupilha
                  Avançou, seguindo a trilha
                  Doce berço de valores.   

7.   Aos pioneiros italianos
                  Transmitiu sua experiência
                  Regras de sobrevivência
                  Caçar e colher pinhão
                  Acender fogo de chão
                  Os segredos da sua essência.

8.   Luís foi um guia bilíngue
                  Um rei dos matos serranos
                  Auxiliou e traçou planos
                  Viveu em tempos penosos
                  Prestou serviços valiosos
                  Foi parceiro dos Milanos!






 





10 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Olá Rosa Maria!
    Estou ajudando minha esposa a procurar a história dos seus antepassados maternos, que são de sobrenome KRONITZKY (ou Gronitzky) e verifiquei algumas coincidências que acredito vocês serem parentes próximas.
    A mãe da minha esposa chamava-se OLIVIA THEREZINHA KRONITZKY, filha de LUIZA WARTHA ( filha de WENCESLAU WARTHA e CATHARINA KELLNER) e JOÃO KRONITZKY (filho de JACOB KRONITZKY e MARIA DIETRICH).
    Os trisavos, pais de JACOB chamavam-se FREDERICO OTTO GRONITZKY e MARGARIDA BACH.
    Temos alguns documentos de registros da família e uma foto antiga deles, que se lhe interessar posso passar cópias, assim como gostaria de pedir se possível compartilhar conosco informações que tenha e que ainda não conseguimos.
    Desde já agradeço a atenção.

    Wendel Donatti

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Wendel, pergunte a sua esposa se ela tinha um tio com o nome de Valdomiro Kronitzky. Este era meu bisavô, cuja a mãe também se chamava Luiza Wartha, casada com um homem de sobrenome Kronitzky. Desde já, obrigada.

      Excluir
    2. Olá Ana Beatriz, tudo bem?
      Sou Aline esposa do Wendel e o Sr. Valdomiro Kronitzky é meu tio sim, irmão de minha mãe Olivia Therezinha Kronitzk (in memoriam) e meus avós se chamam Luiza Wartha Kronitzky(in memoriam) e João Kronitzky(in memoriam). Abraços.

      Excluir
    3. Nossa, que legal! Somos parente então ahuaha

      Excluir
  3. Olá Wendel! Minha pesquisa não é especificamente sobre genealogia. Mandarei as cópias das pesquisas realizadas. Um abraço. Rosa Maria.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Olá, Rosa.
    Aprecio a história local. Resido em Barão. A história dos Versteg (von steg), luis bugre e os indígenas é digna de um longa metragem, não?
    Parabéns pelo acervo de ricas informaçòes.
    Abraço.

    ResponderExcluir
  6. Obrigada Luiz, pela manifestação! Sem dúvida, daria um longa metragem cheio de suspense...e até romantismo! Um abraço.

    ResponderExcluir
  7. Sou a sexta geração de Matias Rodrigues da Fonseca e gostaria de saber mais sobre essa historia. Onde posso pesquisar sobre isso ? tambem estão envolvidos na historia Matias Flach e Miguel Nedel igualmente meus ascendentes. Esse parentesco consta no site FAMILY SEARCH .

    ResponderExcluir