O cultivo das videiras foi
registrado, pela primeira vez, nos papiros dos Faraós do Egito. Além dos
vinhedos às margens do rio Nilo, havia videiras nas Ilhas Gregas e na Grécia. Os
vinhedos também se estenderam ao longo da Bacia do Mediterraneo, pelo Império
Romano.1
Diferentes versículos, em várias citações bíblicas, corroboram a existência das vinhas, uvas e do vinho: “Chegando
ao Vale do Cacho, cortaram um ramo de videira com um cacho de uvas, e o
penduraram numa vara transportada por dois homens; colheram também romãs e
figos.” “Salomão tinha uma vinha em Baal-Hamon: deu a vinha aos meeiros e do
fruto dela cada um lhe traz mil moedas de prata”.2
Na região Sul do Brasil, os
Padres Jesuítas foram os pioneiros no cultivo das vinhas e fabricação de vinho. Edificaram suas igrejas, do lado direito o colégio e ao lado
esquerdo um convento e o cemitério da comunidade. Ao fundo, numa área, com muro
de pedras, havia uma horta, pomar com frutas de procedência europeia e o vinhedo.
Com as uvas faziam o vinho para as celebrações eucarísticas.3
Em 1742, os portugueses de
Açores e da Ilha da Madeira vieram ao Rio Grande do Sul, com suas castas de
uvas portuguesas e francesas, iniciando a plantação das vinhas pela região de
Rio Grande. Em 1748 começou o plantio de viníferas portuguesas no litoral
gaúcho e também nos arredores da Lagoa dos Patos. Em 1807, existiam vinhedos em
Viamão e Gravataí. 3
A videira americana Isabel,
extremamente resistente a doenças e pragas, espalhou-se rapidamente e
entre 1839 e
1842, foi cultivada na Ilha dos Marinheiros. Em Pelotas, o capitão-mor
Manoel Bento da Rocha, fabricava de 5 a 6 pipas de vinho. Na mesma época, em
Rio Pardo, Manuel Macedo chegou a produzir 15 pipas num ano, merecendo honrosa
provisão da Junta de Comércio do Rio de Janeiro.4-5
A partir de 1875 vieram os pioneiros
imigrantes italianos, destinados à Encosta Superior do
Nordeste do Rio Grande do Sul, mais precisamente a Farroupilha, Caxias do Sul, Garibaldi, Bento
Gonçalves e Veranópolis. O imigrante Tommaso Radaelli, morador da Primeira
Légua Milanês (Nova Milano, Farroupilha), tentou adaptar à nova terra bacelos
de uva, trazidos da Itália. Preocupado com o insucesso, não sabia como dar-lhe
remédio. Em 1877, a esperança de voltar a ter vinho foi
avivada, quando avistou uma propriedade com um pequeno
vinhedo de uva Isabel, de procedência americana, que estava aos cuidados de
Jacó Ruschel, filho do comerciante Sebastião, que forneceu-lhe alguns bacelos. Consoante Pellanda, o imigrante Radaelli: "Descendo de suas montanhas com os primeiros produtos para
venda no Caí, se depara nas imediações de Feliz com as belas latadas de Isabel
do colono germânico e desta entrou a fazer a base da vinicultura rio-grandense”.5- 6
Ressalta-se, que o cultivo das videiras Isabel
prosperou na região serrana, em face de sua robustez e grande resistência mesmo
às geadas tardias, rebrota carregada de cachos.
Com o passar dos anos os
imigrantes italianos introduziram outras variedades de uvas americanas, como a
Oberlim, que adquiriram dos vizinhos germânicos de Alto Feliz. Em 1886, alguns
imigrantes da região serrana gaúcha, perceberam que a terra era fértil e que
seria viável o cultivo de videiras. Entre eles se
encontrava Pierrucini, de Caxias do Sul, um grande propagador das
videiras, que motivado pelos resultados satisfatórios, importou outras
variedades viníferas europeias, tais como a Babera, Trebbiano e Vernaccia.5
Por volta de 1896, o governo do Estado do Rio Grande do Sul importou bacelos e fundou uma
Estação Experimental de Agronomia em Caxias do Sul, para análise do vinho
produzido e outras medidas indispensáveis,
sobretudo à conservação do produto. Em 1898 a Secretaria do
Estado adquiriu 25.000 bacelos por intermédio da Casa João Adolfo da Fontoura
Freitas, que foram distribuídos aos colonos de Caxias do Sul, Antônio Prado,
São Marcos, Veranópolis, Ijuí, Bento Gonçalves, e também a agricultores de São
Leopoldo, bairro Tristeza e a proprietários de chácaras da capital. No ano
seguinte o governo importou do Uruguai mais 20.000 bacelos.5
Por volta de 1890,
passou-se a vender o vinho do comerciante colonial da região serrana gaúcha para o comerciante dos
centros de consumo como: São Sebastião do Caí, Montenegro, São Leopoldo e Porto
Alegre e novamente Antônio Pierrucini estava à frente, com suas longas tropas
de mulas carregadas de barris de vinho. 7
Em 1898, Abramo Eberle e
Antônio Pierrucini, industriais e agricultores caxienses introduziram o vinho
rio-grandense em São Paulo. Pierrucini conduziu os barris em lombos de burros
até São Simão, onde foram vendidos. No ano de 1900, Abramo Eberle levou graspa
e vinho a São Paulo, ambos foram bem aceitos.5
Hodiernamente, os descendentes de
imigrantes italianos enaltecem a uva e o vinho em suas festas. Em Caxias dos
Sul comemora-se a Festa Nacional da Uva, em Bento Gonçalves a Fenavinho, em
Flores da Cunha a Fenavindima, em Garibaldi a Fenachamp, Festa do Espumante
Brasileiro e na Forqueta, em Caxias do Sul, a Festa
do Vinho Novo.
Rosa Maria B.Kaspary
Advogada e Pesquisadora
1 JOHNSON, Hugh. A História do Vinho. São Paulo: CMS, 1999, p.
21.
2 BÍBLIA SAGRADA. Sociedade Bíblica Internacional e Paulus. 40. Ed. São Paulo: Paulus, 1990. Números, Capítulo 13, versículos 22 e 23; João, Capítulo 15, Versículo 1; Cântico dos Cânticos, Capítulo 8, Versículo 11.
2 BÍBLIA SAGRADA. Sociedade Bíblica Internacional e Paulus. 40. Ed. São Paulo: Paulus, 1990. Números, Capítulo 13, versículos 22 e 23; João, Capítulo 15, Versículo 1; Cântico dos Cânticos, Capítulo 8, Versículo 11.
3 DAL PIZZOL, Rinaldo. A História da
Uva e do Vinho no RGS. In: Revista do
Vinho.Jan./fev. 1990, Bento Gonçalves: 1990.
4 PIMENTEL, Fortunato. Aspectos Gerais da
Vitivinicultura Rio-grandense. Porto Alegre: Sul Impressora, 1950, p 46.
5 PELLANDA, Ernesto. Aspectos Gerais da
Colonização Italiana no Rio Grande do Sul. In:
Álbum Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização Italiana no R.G.do Sul.
Porto Alegre: Globo, 1950, p. 34-64.
6 MELLO, Carlos Ernesto Cabral de Mello. A História do Vinho no Brasil –
Escola do Vinho.61.ed.São Paulo: Adega, 2010, p.14.
7 SOUZA, Júlio Seabra Inglez de. Uvas para o Brasil. Piracicaba: FEALQ,
1996, p. 103-104.
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