domingo, 7 de junho de 2020

CHÁS ANTIGRIPAIS DA TRADIÇÃO POPULAR


                               
Os pioneiros imigrantes alemães, do Vale do Caí, Rio Grande do Sul, Brasil, vieram a partir de 1824, e os italianos, da Encosta Superior do Nordeste, a partir de 1885. Os primeiros moradores de São Leopoldo trouxeram em sua companhia o Dr. Johann Daniel Hillebrand (1795-1880), médico, militar, formado na Alemanha, que prestou serviços valiosos aos seus compatriotas.
Com o crescimento demográfico, os filhos dos descendentes e os novos imigrantes europeus, fundaram diversas colônias pelo Vale do Caí. Distantes do “município” de São Leopoldo e da Capital, se encontravam desprovidos de assistência médica e de remédios. Para curar, ou aliviar as suas enfermidades, aderiram à prática da medicina natural, com chás de ervas, cascas, ou plantas medicinais.
           Em 1909, foi inaugurado o Hospital Schlatter de Feliz, no Vale do Caí, local onde o médico alemão Gabriel Schlatter começou a clinicar. Foi uma ótima aquisição para o Vale do Caí, todavia, apenas uma ínfima minoria de colonos tinha condições econômicas para arcar com despesas hospitalares. Quando os imigrantes, ou seus descendentes necessitavam de assistência médica, deslocavam-se a Porto Alegre, ao complexo hospitalar da Santa Casa de Misericórdia, inaugurado em 1808.
O trajeto do Vale do Caí até a capital era longo, uns três dias a cavalo, por estradas precárias. Os imigrantes italianos da Serra, que vieram uns 50 anos depois dos alemães, passaram por situação semelhante, porém menos penosa, pois iam a cavalo até o Porto do Guimarães de São Sebastião do Caí, e de lá seguiam de barco até Porto Alegre.      
Diante desses empecilhos, grande parte dos imigrantes, do Vale do Caí e da Região Serrana,  consultava com o médico prático, “Doctor” Kaiser, professor e pastor da Encosta da subida da Serra, que receitava e manipulava remédios, até 1958. As parteiras também auxiliavam os colonos com as suas receitas de chás caseiros. Os Padres Jesuítas, a cavalo, levavam a hóstia, benzimento e esperança aos enfermos e passaram aos colonos os seus conhecimentos fitoterápicos, adquiridos dos indígenas.
Também havia as benzedeiras e os curandeiros, como o fitoterapeuta “Doctor” Nienov, que apenas com o nome e data de nascimento do enfermo, orava e passava a anotar “7 nomes de ervas, cascas, ou plantas medicinais” e no final da receita escrevia o modo de preparo do chá: ferver as folhas com três xícaras de água por 5 minutos, abafar por 10 minutos; beber durante 21 dias. Para as síndromes gripais, também sugeria o “escalda pés” com chá de folhas de eucalipto.
Em épocas de doenças endêmicas, para evitar a contaminação, os filhos dos imigrantes e seus descendentes tomavam, em jejum, alho com leite quente, ou gotas de “Mainzer Tropfen”, com açúcar, ou mel.

           ERVAS E PLANTAS MEDICINAIS USADAS PELOS IMIGRANTES
DIARREIA - Para secar as secreções e tonificar o intestino: canela, folha de pitangueira, folhas novas de goiabeira, casca de romã. Para aliviar a dor: chá de camomila, endro, gengibre, hortelã pimenta. É vital beber muito líquido, água “fervida” e soro caseiro.
GARGANTA - para aliviar a infecção, quando surgirem os primeiros sintomas, tomar chás antimicrobianos como: gengibre, alho, losna, unha-de-gato, equinacea, casca de romã. Também será benéfico gargarejar ou borrifar na garganta: sálvia, tomilho, manjerona, ou água e sal.
NARIZ OBSTRUÍDO: ralar um nabo fresco, extrair o suco, embeber em algodão e colocar na narina obstruída.
TOSSE - Expectorantes e descongestionantes: tomilho, gengibre, manjerona, pulmonaria, guaco, alecrim (tosse, coração, gases), alfazema (lavanda).
Erva Doce: (calmante e  expectorante) Modo de preparo: uma colher de chá da semente, ou um sachê, com uma xícara de água.
"Tanchagem" e verbasco acalmam a irritação e a inflamação das tosses secas.
Frutos e verduras com vitamina C (limpam o escarro e protegem os pulmões): mirtilo, acerola, limão bergamota, laranja, goiaba, kiwi, abacaxi, tomate, brócolis, espinafre, repolho, rúcula, gengibre, própolis, entre outros.
                                    DOSAGEM DOS CHÁS
- Adultos: ½ colher de sopa de folhas secas da planta, ou 1 sachê por xícara de água. Tomar uma xícara de chá 3 vezes ao dia.
- Crianças: 1/2 xícara de chá por dia, aumentando conforme  a idade.
Obs. Plantas amargas devem ser usadas no máximo por 8 dias. Recomenda-se a substituição da planta ou erva por outra com propriedades semelhantes.

                                    CONDIMENTOS & CHÁS
ALHO (Allium sativum) - Além de servir para realçar o sabor de outros ingredientes na cozinha, os imigrantes europeus, em épocas de surtos de doenças endêmicas, ou epidêmicas, para evitar o contágio, usavam o condimento como chá, no leite, ou ainda, mastigavam alguns “dentes”, em jejum. AÇÕES: expectorante (antibacteriano, antifúngico, antiviral) estimulante do sistema imunológico, hipotensivo, antitumoral, estimulante da circulação (reduz a pressão e a formação de coágulos) digestivo. Obs.evitar doses elevadas juntamente com outros remédios.
CANELA (Cinnamomum zeylanicum) -. expectorante para tosses e infecções das vias respiratórias. As inalações descongestionantes podem ser usadas para resfriados e catarro. Reduz o mau colesterol. AÇÃO: antiviral, antibacteriana, antioxidante, estimulante da circulação, nervina, anestésica, probiótica. e o seu óleo essencial é antibacteriano, antiviral e antifúngico. Evitar o consumo durante a gravidez. A canela em casca, ou em pó é usada em sobremesas, bolos e outros doces bebidas.
CEBOLA (Allium cepa) – expectorante, com mel é indicada para gripes. Além de servir como condimento na culinária, purifica o sangue e beneficia o coração. A cebola é rica em nutrientes e substâncias antioxidantes, anti-inflamatória, antialérgica e outros.
CEBOLINHA – utilizar as raízes da cebolinha (descartar o bulbo) para fazer chá: febrífuga a anti-inflamatória (dor de garganta).  
EUCALIPTO (eucalytpus) ferver as folhas de eucalipto em água para fazer nebulizações para rinite, sinusite e afecções respiratórias. O chá com mel é indicado para asma, bronquites, afecções pulmonares e gripes.  
GENGIBRE (Zingiber officinalis) - é o principal aromatizante da culinária chinesa e também muito usado na culinária brasileira. Em forma de balas, cristais, serve para aliviar a dor de garganta (inicial),  ou como chá, podendo ser adoçado com mel. O rizoma em infusão é usado para: gripes, resfriados, tosse, catarro, rouquidão, bronquite e afonia.  AÇÕES: estimulante da circulação, carminativa, digestiva, expectorante, diurética, afrodisíaca, antiemética, analgésica, anti-inflamatória, diaforética, antiespasmódica, tônica para o sistema imunológico, antimicrobiana, antoxidante. 
MANJERONA (Origanum majorana) – chá: elimina o escarro, acalma a tosse e alivia sinusite e febre. AÇÃO: digestiva, carminativa, tônica, estimulante, diaforética, antiespasmódica, diurética, antiviral, antioxidante, expectorante, probiótica. Na culinária é um excelente tempero para “galinhada”.
XAROPE EXPECTORANTE DE MANJERONA, ou menta (receita dos imigrantes): colocar três raminhos de manjerona, ou menta em um recipiente de metal e adicionar três colheres de açúcar e uma colher de “brasas”. Enquanto sair a fumaça, mexer e após adicionar uma xícara de água quente. Beber aos poucos. 
SALVIA (Salvia officinalis) - tosse, catarros, dor de garganta (analgésico e anti-inflamatório) obs. Não tomar durante a gestação e lactação.AÇÕES: antimicrobiana, adstringente, antisséptica, tônica amarga, digestiva, antioxidante, rejuvenescedora, diurética, fitoestrogênica, antihidrótica, carminativa, colagoga, vasodilatadora. Na culinária é usada como tempero em carnes e molhos.   
SETE SANGRIAS (Cuphea Carthagenesis) o Dr “Nienow” dizia, que essa planta era milagrosa! Seu chá é indicado para irritação das vias respiratórias, tosse (cardíaca), nervos, palpitações do coração, febre, insônia, pressão alta, arteriosclerose, doenças venéreas, provoca suor e reduz o colesterol.   Advertência: o chá de Sete Sangrias não é recomendado para gestantes e crianças. O uso prolongado pode causar queda brusca da pressão e o consumo excessivo pode causar diarreia. Não apresenta graus de toxidade. Composição da planta: Em seu extrato bruto são encontradas: mucilagens, óleo volátil (essencial), saponina, tanino, pigmentos e flavanóides. Preparo (para adultos): três colheres de sopa de qualquer parte da planta, por litro de água, três xícaras por dia.

Obras Consultadas:
Franco, Pe. Ivacir João Franco e Fontana, Vilson Luiz, Ervas e Plantas.
McIntyre, Anne, Guia Completo de Fitoterapia (médica ayurvédica).
Yum, Jong Suk, Natureza Laboratório da Vida (médico em Medicina Oriental pela Universidade Kyung-Hee da Coreia) .

Rosa Maria Boenny Kaspary, pesquisadora, cursou Fitoterapia (com a Bióloga                           Me.Virgínia Koch).

“Pensar em uma pessoa que se ama é rezar por ela”. Santa Terezinha do Menino Jesus.

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