Os pioneiros imigrantes alemães,
do Vale do Caí, Rio Grande do Sul, Brasil, vieram a partir de 1824, e os italianos,
da Encosta Superior do Nordeste, a partir de 1885. Os primeiros moradores de
São Leopoldo trouxeram em sua companhia o Dr. Johann Daniel Hillebrand
(1795-1880), médico, militar, formado na Alemanha, que prestou serviços valiosos aos seus compatriotas.
Com o crescimento demográfico, os
filhos dos descendentes e os novos imigrantes europeus, fundaram diversas colônias
pelo Vale do Caí. Distantes do “município” de São Leopoldo e da Capital, se
encontravam desprovidos de assistência médica e de remédios. Para curar, ou
aliviar as suas enfermidades, aderiram à prática da medicina natural, com chás de
ervas, cascas, ou plantas medicinais.
Em 1909, foi inaugurado o
Hospital Schlatter de Feliz, no Vale do Caí, local onde o médico alemão Gabriel
Schlatter começou a clinicar. Foi uma ótima aquisição para o Vale do Caí, todavia, apenas uma ínfima minoria de colonos tinha condições econômicas para
arcar com despesas hospitalares. Quando os imigrantes, ou seus descendentes necessitavam de assistência médica, deslocavam-se a Porto
Alegre, ao complexo hospitalar da Santa Casa de Misericórdia, inaugurado em
1808.
O trajeto do Vale do Caí até a
capital era longo, uns três dias a cavalo, por estradas precárias. Os imigrantes
italianos da Serra, que vieram uns 50 anos depois dos alemães, passaram por
situação semelhante, porém menos penosa, pois iam a cavalo até o Porto do
Guimarães de São Sebastião do Caí, e de lá seguiam de barco até Porto
Alegre.
Diante desses empecilhos, grande
parte dos imigrantes, do Vale do Caí e da Região Serrana, consultava com
o médico prático, “Doctor” Kaiser,
professor e pastor da Encosta da subida da Serra, que receitava e manipulava remédios, até
1958. As parteiras também auxiliavam os colonos com as suas receitas de chás
caseiros. Os Padres Jesuítas, a cavalo, levavam a hóstia, benzimento e esperança
aos enfermos e passaram aos colonos os seus conhecimentos fitoterápicos, adquiridos
dos indígenas.
Também havia as benzedeiras e os
curandeiros, como o fitoterapeuta “Doctor” Nienov, que apenas com o nome e data
de nascimento do enfermo, orava e passava a anotar “7 nomes de ervas, cascas, ou
plantas medicinais” e no final da receita escrevia o modo de preparo do chá: ferver as folhas com três
xícaras de água por 5 minutos, abafar por 10 minutos; beber durante 21 dias. Para
as síndromes gripais, também sugeria o “escalda pés” com chá de folhas de eucalipto.
Em épocas de doenças endêmicas, para
evitar a contaminação, os filhos dos imigrantes e seus descendentes tomavam, em
jejum, alho com leite quente, ou gotas de “Mainzer Tropfen”, com açúcar, ou mel.
ERVAS E PLANTAS MEDICINAIS USADAS PELOS IMIGRANTES
DIARREIA - Para secar as secreções e tonificar o intestino: canela,
folha de pitangueira, folhas novas de goiabeira, casca de romã. Para aliviar a
dor: chá de camomila, endro, gengibre, hortelã pimenta. É vital beber muito
líquido, água “fervida” e soro caseiro.
GARGANTA - para aliviar a infecção, quando surgirem os primeiros
sintomas, tomar chás antimicrobianos como: gengibre, alho, losna, unha-de-gato,
equinacea, casca de romã. Também será benéfico gargarejar ou borrifar na
garganta: sálvia, tomilho, manjerona, ou água e sal.
NARIZ OBSTRUÍDO: ralar um nabo fresco, extrair o suco, embeber em
algodão e colocar na narina obstruída.
TOSSE - Expectorantes e descongestionantes: tomilho, gengibre, manjerona,
pulmonaria, guaco, alecrim (tosse, coração, gases), alfazema (lavanda).
Erva Doce: (calmante e expectorante) Modo de preparo: uma colher de
chá da semente, ou um sachê, com uma xícara de água.
"Tanchagem" e verbasco acalmam a
irritação e a inflamação das tosses secas.
Frutos e verduras com vitamina C (limpam
o escarro e protegem os pulmões): mirtilo, acerola, limão bergamota, laranja,
goiaba, kiwi, abacaxi, tomate, brócolis, espinafre, repolho, rúcula, gengibre,
própolis, entre outros.
DOSAGEM DOS CHÁS
- Adultos: ½ colher de sopa de
folhas secas da planta, ou 1 sachê por xícara de água. Tomar uma xícara de chá
3 vezes ao dia.
- Crianças: 1/2 xícara de chá por
dia, aumentando conforme a idade.
Obs. Plantas amargas devem ser
usadas no máximo por 8 dias. Recomenda-se a substituição da planta ou erva por
outra com propriedades semelhantes.
CONDIMENTOS & CHÁS
ALHO
(Allium sativum) - Além de servir para realçar o sabor de outros ingredientes
na cozinha, os imigrantes europeus, em épocas de surtos de doenças endêmicas,
ou epidêmicas, para evitar o contágio, usavam o condimento como chá, no leite,
ou ainda, mastigavam alguns “dentes”, em jejum. AÇÕES: expectorante
(antibacteriano, antifúngico, antiviral) estimulante do sistema imunológico, hipotensivo,
antitumoral, estimulante da circulação (reduz a pressão e a formação de
coágulos) digestivo. Obs.evitar doses elevadas juntamente com outros remédios.
CANELA
(Cinnamomum zeylanicum) -. expectorante para tosses e infecções das vias
respiratórias. As inalações descongestionantes podem ser usadas para resfriados
e catarro. Reduz o mau colesterol. AÇÃO: antiviral, antibacteriana, antioxidante,
estimulante da circulação, nervina, anestésica, probiótica. e o seu óleo
essencial é antibacteriano, antiviral e antifúngico. Evitar o consumo durante a
gravidez. A canela em casca, ou em pó é usada em sobremesas, bolos e outros
doces bebidas.
CEBOLA
(Allium cepa) – expectorante, com mel é indicada para gripes. Além de servir
como condimento na culinária, purifica o sangue e beneficia o coração. A cebola
é rica em nutrientes e substâncias antioxidantes, anti-inflamatória,
antialérgica e outros.
CEBOLINHA
– utilizar as raízes da cebolinha (descartar o bulbo) para fazer chá: febrífuga
a anti-inflamatória (dor de garganta).
EUCALIPTO
(eucalytpus) ferver as folhas de eucalipto em água para fazer nebulizações para
rinite, sinusite e afecções respiratórias. O chá com mel é indicado para asma,
bronquites, afecções pulmonares e gripes.
GENGIBRE
(Zingiber officinalis) - é o principal aromatizante da culinária chinesa e
também muito usado na culinária brasileira. Em forma de balas, cristais, serve
para aliviar a dor de garganta (inicial), ou como chá, podendo ser adoçado com mel. O
rizoma em infusão é usado para: gripes, resfriados, tosse, catarro, rouquidão,
bronquite e afonia. AÇÕES: estimulante
da circulação, carminativa, digestiva, expectorante, diurética, afrodisíaca,
antiemética, analgésica, anti-inflamatória, diaforética, antiespasmódica, tônica
para o sistema imunológico, antimicrobiana, antoxidante.
MANJERONA
(Origanum majorana) – chá: elimina o escarro, acalma a tosse e alivia sinusite
e febre. AÇÃO: digestiva, carminativa, tônica, estimulante, diaforética,
antiespasmódica, diurética, antiviral, antioxidante, expectorante, probiótica. Na
culinária é um excelente tempero para “galinhada”.
XAROPE
EXPECTORANTE DE MANJERONA, ou menta (receita dos imigrantes): colocar três
raminhos de manjerona, ou menta em um recipiente de metal e adicionar três
colheres de açúcar e uma colher de “brasas”. Enquanto sair a fumaça, mexer e
após adicionar uma xícara de água quente. Beber aos poucos.
SALVIA
(Salvia officinalis) - tosse, catarros, dor de garganta (analgésico e
anti-inflamatório) obs. Não tomar durante a gestação e lactação.AÇÕES:
antimicrobiana, adstringente, antisséptica, tônica amarga, digestiva,
antioxidante, rejuvenescedora, diurética, fitoestrogênica, antihidrótica,
carminativa, colagoga, vasodilatadora. Na culinária é usada como tempero em
carnes e molhos.
SETE
SANGRIAS (Cuphea Carthagenesis) o Dr “Nienow” dizia, que essa planta era
milagrosa! Seu chá é indicado para irritação das vias respiratórias, tosse
(cardíaca), nervos, palpitações do coração, febre, insônia, pressão alta,
arteriosclerose, doenças venéreas, provoca suor e reduz o colesterol. Advertência: o chá de Sete Sangrias não é
recomendado para gestantes e crianças. O uso prolongado pode causar queda
brusca da pressão e o consumo excessivo pode causar diarreia. Não apresenta
graus de toxidade. Composição da planta: Em seu extrato bruto são encontradas:
mucilagens, óleo volátil (essencial), saponina, tanino, pigmentos e
flavanóides. Preparo (para adultos): três colheres de sopa de qualquer parte da
planta, por litro de água, três xícaras por dia.
Obras Consultadas:
Franco, Pe. Ivacir João Franco e
Fontana, Vilson Luiz, Ervas e Plantas.
McIntyre, Anne, Guia Completo de
Fitoterapia (médica ayurvédica).
Yum, Jong Suk, Natureza Laboratório
da Vida (médico em Medicina Oriental pela Universidade Kyung-Hee da Coreia) .
Rosa Maria Boenny Kaspary,
pesquisadora, cursou Fitoterapia (com a Bióloga Me.Virgínia Koch).
“Pensar em uma pessoa que se ama é
rezar por ela”. Santa Terezinha do Menino Jesus.
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