Os pioneiros imigrantes,Tommaso Radaelli, Stefano Crippa, Luigi Sperafico e suas famílias, chegaram em Nova Milano – Farroupilha/RS, no dia 20 de maio de 1875. O grupo emigrou da Itália para o Brasil, em busca de melhores condições de vida.
Ao chegarem nos lotes demarcados pela Comissão de Terras, apenas encontraram um rancho “habitado por um índio chamado Luís Bugre, da Vila Feliz”. Do Caí, “até ao local onde deviam residir tiveram de caminhar a pé, trazendo nos ombros as suas bagagens.” (1)
Com o auxílio de Luís Bugre, que era bilíngue, os italianos aprenderam a caçar, preparar alguns tipos de caules, frutos comestíveis, chás e formas de se protegerem do frio rigoroso e dos animais selvagens. Também “ajudou-os a construir os seus casebres”. (2)
Três semanas depois da vinda dos pioneiros italianos, outras famílias, procedentes da região de Milão, instalaram-se em Nova Milano. “No ano seguinte o governo mandou construir um “barracão” para abrigar os imigrantes”.(3) As bagagens, crianças e os mais frágeis, que antes eram carregados nos ombros, passaram a ser transportados nos lombos das mulas. Em poucos meses “o barracão dos imigrantes estava apinhado de gente, que aguardava colocação”. (4)
“Durante 14 meses os primeiros colonizadores receberam do governo o auxílio diário de 700 réis (correspondiam a 70 centavos em moeda da época, em 1950)”. Os italianos de Nova Milano “a princípio procuravam mantimentos em Feliz, na casa de um tal Kaspary”.(1 e 5) Para buscá-los, enfrentaram uma longa jornada de aproximadamente 60 quilômetros, de ida e volta.
Em 28 de junho de 1876, foi instalada a primeira turma de imigrantes italianos no Campo dos Bugres (Caxias), formada por cerca de 600 tiroleses, vênetos e lombardos. Essa turma tomou um rumo diferente dos pioneiros. Seguiu por Vale Real até Galópolis, onde permaneceu acampada, na base do Morro Cristal, por cerca de seis meses, aguardando a medição e liberação dos lotes. (6)
Em 1878, os lotes de “Caxias do Sul e Farroupilha estavam povoados por 2.315 imigrantes italianos, vindos de Belluno, Treviso, Pádova, Mantova e 1.007 tiroleses. (7) Eram devotos fervorosos de Nossa Senhora de Caravaggio e deixaram um grande legado às futuras gerações.
Todos foram batalhadores, todavia nem todos tiveram a mesma sorte, ou oportunidades. “Quantas comunidades desapareceram e, para cada vencedor, milhares de homens e mulheres não conseguiram “fazer a América”, e certamente não lhes faltou coragem, honestidade e trabalho”. (8)
CONTRIBUIÇÕES DOS GERMÂNICOS DO VALE DO CAÍ
Os primeiros imigrantes alemães chegaram a São Leopoldo/RS, a partir de 1824. Os germânicos, que se instalaram no Vale do Caí, a partir de 1846, próximo aos primeiros contrafortes da serra, chegaram vinte e nove anos antes dos pioneiros italianos da serra e passaram por situações semelhantes.
O povo germânico, de Alto Feliz e Feliz, muito contribuiu com a construção e o abastecimento do núcleo de “Nova Vicenza” (Farroupilha). No início, os imigrantes do “Campo dos Bugres” (Caxias), também buscavam os seus mantimentos em Nova Vicenza.
O transporte de mercadorias era realizado pelos carreteiros, por estradas precárias, do Porto do Guimarães de São Sebastião do Caí, pelo íngreme Morro das Batatas, até Nova Vicenza (Farroupilha). As cargas normais eram tracionadas por três pares de mulas e as mais pesadas por cinco pares.
A GRANDE TRAVESSIA NAVEGAÇÃO E CAMINHOS
Os italianos, que se estabeleceram na Serra Gaúcha, partiram do Porto de Gênova/Itália, realizaram a grande travessia pelo Oceano Atlântico,.”após “trentasei giorni di macchina e vapore” aportaram na Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, onde permaneceram de quarentena, no alojamento para imigrantes. Cumprido o prazo, seguiram para o Sul do Brasil a bordo do navio da Companhia Nacional. Essas viagens duravam de dez a doze dias.
Do Porto de Rio Grande foram conduzidos, por outras embarcações, até o bairro Cristal de Porto Alegre, onde ficavam numa antiga propriedade provincial, até a chegada de um novo grupo de hóspedes. Apesar das “levas” de imigrantes serem numerosas, mais de cem cada, partiam da Capital em pequenos “vapores”: pelo Rio Guaíba, Jacuí e após, pelo Rio Caí até o Porto do Guimarães. Em São Sebastião do Caí ficavam na casa do imigrante, até a chegada de outra turma. (09)
O Porto do Guimarães foi inaugurado em 1875, para facilitar o transporte dos imigrantes italianos e suas bagagens, porém logo apresentou deficiência. Quando as águas do rio Caí baixavam, os vapores não chegavam até o Guimarães, por falta de calado, ocasião em que os passageiros desembarcavam no porto de Montenegro. Dali seguiam em pequenas lanchas, até o porto de São Sebastião do Caí. Somente 31 anos depois, em 1906, foi solucionado o impasse, com a inauguração da barragem Rio Branco, uma eclusa que permitia a navegação com eficiência, até o Guimarães.
A partir de São Sebastião do Caí, iniciavam-se os deslocamentos por via terrestre, até Nova Milano. Seguiam pela Estrada Rio Branco, onde “as primeiras vozes soavam, no caminho pela floresta”,(10) passavam por Vigia e Escadinhas/Feliz. Faziam a travessia do Rio Caí, no “Passo da Boa Esperança”, local onde foi instalada a ponte de ferro, importada da Bélgica em 1900. Cortaram o centro de Feliz, pela Rua Santa Catarina, e subiram o Morro das Batatas até a Capela Santo Inácio/Alto Feliz. Dali seguiram até o destino indicado. (12/16)
Rosa Maria Boenny Kaspary
Pesquisadora, Advogada, Poetisa (nome literário: Rosiê Boenny)
VIVÊNCIA DE UM POVO IMIGRANTE
Autora: Rosiê Boenny
1 -Pelas águas do oceano e por rios 4 – Se banharam em águas cristalinas
Navegaram nossos ancestrais Apreciaram jardins multicores
Aportaram nos portos dos Vales O gorjeio das aves em festa
Com fé e esperança Com os frutos da terra ...
Em busca de um lar! Vivência sem-par!
2 -Se abrigaram em moradas precárias 5- Transmitiram aos seus descendentes
Em barracos e em hospedarias Um legado de prosperidade.
Enfrentaram caminhos penosos As memórias das belas cantigas
Orando, cantando ... Histórias da Europa...
Buscando alegrias! Lembranças perenes!
3 -Galgaram o “Batatenberg”
Lá no Alto Feliz contemplaram
Vales, morros entrecortados,
Colinas, cascatas...
Encantos
da serra!
Porto do Guimarães de São Sebastião do Caí/RS, degraus “pisados” por milhares de imigrantes!
Estrada do Morro das Batatas, chão acariciado pelos pés de centenas de imigrantes!Igreja Santo Inácio (atual Capela), foi inaugurada em 1874, local onde foram realizados os batizados dos primeiros filhos dos imigrantes da serra.(11) (Obs.imagens acima foram fotografadas por Rosa M.B.Kaspary)
1 FORTINI, Archymedes. O 75º aniversário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul, 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 1950.
2 BARBOSA, Fidelis Dalcin Barbosa. LUIS BUGRE o Indígena Diante dos Imigrantes Alemães. Porto Alegre: EST, 1977.
3 GARDELIN, Mário; COSTA, Rovílio. Os povoadores da Colônia Caxias. Porto Alegre: Sulina, 1992.
4 Tcacenco, Maria Adami. Heroicos Imigrantes. Porto Alegre: ESTEF, 1986.
5 Museu e Arquivo Histórico Visconde de São Leopoldo, imigração alemã no RGS, Livro 1. Os irmãos Kaspary, Johann e Nicolau vieram da Prussia para o Brasil, em 1846.
6 CHIARELLO, Natal. Breve História de Minha Terra.Caxias do Sul: Pró Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa.UCS, 1985.
7 Relatório do Serviços de Imigração e Colonização da Província do Rio Grande do Sul aos Ministérios e Secretarias de Estado e Negócios da Agricultura Comércio e Obras Públicas, elaborado pelo Engenheiro Manuel Maria de Carvalho, apresentado ao Império,1878.
8 FAVARO, C. E. Amor à italiana. O real e o imaginário nas relações familiares na região da Colonização Italiana do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST, 1987.
9 PELLANDA, Ernesto. Aspectos Gerais da Colonização Italiana no RGS. In: Álbum Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização Italiana no R.G.do Sul. Porto Alegre: Globo, 1950.
10 GARDELIN, Mário. “Apresentação”.... E cantavam. Caxias do Sul: São Miguel, 1980.
11 Arquivo Histórico da Mitra Diocesana de Porto Alegre – Livro de Batizados da antiga Igreja Santo Inácio da Feliz.
12 Após, passaram pelo centro de Alto Feliz e seguiram até São Pedro, até o local onde a Comissão de Medição de Terras estava acampada. Havia água e espaço para descansar. Até a Linha Boemia (Farroupilha), o percurso era de cerca de 3 km, pelas estradas carroçáveis dos tchecos. Depois desse trecho, enfrentaram mais uns 10km até Nova Milano, pela picada, aberta pela Comissão de Medição de Terras.
13 Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Relatório do Serviços de Imigração e Colonização (...) 1886 (7): De 1873 a 1877 a Comissão de Medição de Terras permaneceu acampada em São Pedro da Feliz, a mando do governo, para a realização da medição dos lotes, a serem destinados aos imigrantes italianos. Iniciaram a medição por Nova Milano e após, Nova Vicenza (Farroupilha). Em 1877 a Comissão de Terras foi transferida à Quinta Légua (Caxias). Nova Milano, a primeira região a ter seus lotes vendidos foi povoada por milaneses e a região de Nova Vicenza (Farroupilha) foi povoada por vicentinos, trevisanos e trentinos.
14 MASSON, Alceu. Caí (Monografia). São Sebastião do Caí: Kusminskye Ely (Edição da Prefeitura Municipal de Caí), 1940): Os imigrantes destinados a Garibaldi e Bento Gonçalves, aportaram em São João do Montenegro e ficaram alojados numa hospedaria no centro.
Após, saíam dali, passavam por Maratá, Poço das Antas, Linha Francesa, Barão e Carlos Barbosa, até o destino final. “O trajeto era extremamente perigoso, completamente desabitado, cheio de inço e cipós, que desenvolveram-se rapidamente pelas íngremes montanhas e beiras de precipícios”.
15 Relatório Serviços de Imigração 1886 Algum tempo após a vinda dos pioneiros milaneses, os destinados a Garbaldi começaram a navegar até o Guimarães e de lá passaram a realizar o mesmo trajeto dos demais, porém faziam a travessia do rio Caí antes, no Passo do Selbach, em Bom Princípio, depois seguiam por estradas carroçáveis, ladeadas por lotes habitados, desde 1857, por imigrantes alemães e de outras nacionalidades. Seguiram por Santa Teresinha, São Vendelino, Santa Clara, Carlos Barbosa, até o destino final. Em 1888, com a inauguração da Estrada Buarque de Macedo, que ligava a serra a Montenegro (atual BR 470), a qualidade de vida dos imigrantes de “Conde D’Eu” e “Princesa Isabel” melhorou.
16 A 4ª
Colônia, Silveira Martins (território pertencente à Região de Santa Maria),
passou a receber levas de imigrantes italianos a partir de 19/05/1877. Engloba
os atuais municípios de: Silveira Martins, Ivorá, Faxinal do Soturno, Dona
Francisca, Nova Palma, Pinhal Grande, São João do Polesine e partes de outros
municípios.
“Salamu Alaikum!” Yeshua (Que a paz esteja sobre vós). Amém.
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