segunda-feira, 4 de julho de 2016

As Videiras as Uvas e o Vinho

       O cultivo das videiras foi registrado, pela primeira vez, nos papiros dos Faraós do Egito. Além dos vinhedos às margens do rio Nilo, havia videiras nas Ilhas Gregas e na Grécia. Os vinhedos também se estenderam ao longo da Bacia do Mediterraneo, pelo Império Romano.
Diferentes versículos, em várias citações bíblicas, corroboram a existência das vinhas, uvas e do vinho: “Chegando ao Vale do Cacho, cortaram um ramo de videira com um cacho de uvas, e o penduraram numa vara transportada por dois homens; colheram também romãs e figos.” “Salomão tinha uma vinha em Baal-Hamon: deu a vinha aos meeiros e do fruto dela cada um lhe traz mil moedas de prata”.2
Na região Sul do Brasil, os Padres Jesuítas foram os pioneiros no cultivo das vinhas e fabricação de vinho. Edificaram suas igrejas, do lado direito o colégio e ao lado esquerdo um convento e o cemitério da comunidade. Ao fundo, numa área, com muro de pedras, havia uma horta, pomar com frutas de procedência europeia e o vinhedo. Com as uvas faziam o vinho para as celebrações eucarísticas.3
Em 1742, os portugueses de Açores e da Ilha da Madeira vieram ao Rio Grande do Sul, com suas castas de uvas portuguesas e francesas, iniciando a plantação das vinhas pela região de Rio Grande. Em 1748 começou o plantio de viníferas portuguesas no litoral gaúcho e também nos arredores da Lagoa dos Patos. Em 1807, existiam vinhedos em Viamão e Gravataí. 3
 A videira americana Isabel, extremamente resistente a doenças e pragas, espalhou-se rapidamente e entre 1839 e 1842, foi cultivada na Ilha dos Marinheiros. Em Pelotas, o capitão-mor Manoel Bento da Rocha, fabricava de 5 a 6 pipas de vinho. Na mesma época, em Rio Pardo, Manuel Macedo chegou a produzir 15 pipas num ano, merecendo honrosa provisão da Junta de Comércio do Rio de Janeiro.4-5
A partir de 1875 vieram os pioneiros imigrantes italianos, destinados à Encosta Superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, mais precisamente a Farroupilha, Caxias do Sul, Garibaldi, Bento Gonçalves e Veranópolis. O imigrante Tommaso Radaelli, morador da Primeira Légua Milanês (Nova Milano, Farroupilha), tentou adaptar à nova terra bacelos de uva, trazidos da Itália. Preocupado com o insucesso, não sabia como dar-lhe remédio. Em 1877, a esperança de voltar a ter vinho foi avivada, quando avistou uma propriedade com um pequeno vinhedo de uva Isabel, de procedência americana, que estava aos cuidados de Jacó Ruschel, filho do comerciante Sebastião, que forneceu-lhe alguns bacelos. Consoante Pellanda, o imigrante Radaelli: "Descendo de suas montanhas com os primeiros produtos para venda no Caí, se depara nas imediações de Feliz com as belas latadas de Isabel do colono germânico e desta entrou a fazer a base da vinicultura rio-grandense”.5- 6
 Ressalta-se, que o cultivo das videiras Isabel prosperou na região serrana, em face de sua robustez e grande resistência mesmo às geadas tardias, rebrota carregada de cachos.
Com o passar dos anos os imigrantes italianos introduziram outras variedades de uvas americanas, como a Oberlim, que adquiriram dos vizinhos germânicos de Alto Feliz. Em 1886, alguns imigrantes da região serrana gaúcha, perceberam que a terra era fértil e que seria viável o cultivo de videiras. Entre eles se encontrava Pierrucini, de Caxias do Sul, um grande propagador das videiras, que motivado pelos resultados satisfatórios, importou outras variedades viníferas europeias, tais como a Babera, Trebbiano e Vernaccia.5
Por volta de 1896, o governo do Estado do Rio Grande do Sul importou bacelos e fundou uma Estação Experimental de Agronomia em Caxias do Sul, para análise do vinho produzido e outras medidas indispensáveis, sobretudo à conservação do produto. Em 1898 a Secretaria do Estado adquiriu 25.000 bacelos por intermédio da Casa João Adolfo da Fontoura Freitas, que foram distribuídos aos colonos de Caxias do Sul, Antônio Prado, São Marcos, Veranópolis, Ijuí, Bento Gonçalves, e também a agricultores de São Leopoldo, bairro Tristeza e a proprietários de chácaras da capital. No ano seguinte o governo importou do Uruguai mais 20.000 bacelos.5
Por volta de 1890, passou-se a vender o vinho do comerciante colonial da região serrana gaúcha para o comerciante dos centros de consumo como: São Sebastião do Caí, Montenegro, São Leopoldo e Porto Alegre e novamente Antônio Pierrucini estava à frente, com suas longas tropas de mulas carregadas de barris de vinho. 7
Em 1898, Abramo Eberle e Antônio Pierrucini, industriais e agricultores caxienses introduziram o vinho rio-grandense em São Paulo. Pierrucini conduziu os barris em lombos de burros até São Simão, onde foram vendidos. No ano de 1900, Abramo Eberle levou graspa e vinho a São Paulo, ambos foram bem aceitos.5
 Hodiernamente, os descendentes de imigrantes italianos enaltecem a uva e o vinho em suas festas. Em Caxias dos Sul comemora-se a Festa Nacional da Uva, em Bento Gonçalves a Fenavinho, em Flores da Cunha a Fenavindima, em Garibaldi a Fenachamp, Festa do Espumante Brasileiro e na Forqueta, em Caxias do Sul, a Festa do Vinho Novo.
                                                                      Rosa Maria B.Kaspary 
                                                                                  Advogada e Pesquisadora
 1 JOHNSON, Hugh. A História do Vinho. São Paulo: CMS, 1999, p. 21.
2 BÍBLIA SAGRADA. Sociedade Bíblica Internacional e Paulus. 40. Ed.  São Paulo: Paulus, 1990. Números, Capítulo 13, versículos 22 e 23; João, Capítulo 15, Versículo 1; Cântico dos Cânticos, Capítulo 8, Versículo 11.
3 DAL PIZZOL, Rinaldo. A História da Uva e do Vinho no RGS. In: Revista do Vinho.Jan./fev. 1990, Bento Gonçalves: 1990.
4 PIMENTEL, Fortunato. Aspectos Gerais da Vitivinicultura Rio-grandense. Porto Alegre: Sul Impressora, 1950, p 46.
5 PELLANDA, Ernesto. Aspectos Gerais da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul. In: Álbum Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização Italiana no R.G.do Sul. Porto Alegre: Globo, 1950, p. 34-64.
6 MELLO, Carlos Ernesto Cabral de Mello. A História do Vinho no Brasil – Escola do Vinho.61.ed.São Paulo: Adega, 2010, p.14.

7 SOUZA, Júlio Seabra Inglez de. Uvas para o Brasil. Piracicaba: FEALQ, 1996, p. 103-104.