LUÍS BUGRE
Em 1847, Luís Bugre foi adotado pela família
de Matias Rodrigues da Fonseca, portugueses,
moradores da Colônia Feliz (Feliz/RS). Foi batizado na igreja católica de São
José do Hortencio, com o nome de Luís Antonio; aprendeu a falar a língua portuguesa
com seus curadores e a língua alemã com os vizinhos e amigos. Ao completar 20
anos de idade abandonou o lar português e passados alguns meses, retornou para
apresentar a sua companheira, que era índígena, ou cabocla, com a qual morou
durante anos na encosta do morro Canastra, em São Vendelino/RS. Por volta
de 1870, após a fuga de Jacob Versteg (1) do cativeiro, Luís Bugre sumiu
do lugarejo. [...]
GANSWEIDT,
Matias José. DAMIÃO, Eugênio. As vítimas do Bugre. Porto Alegre: Selbach, 1946,
p.40.
Nota:
Meu bisavô paterno, Jacob Barth, imigrante alemão, carreteiro, transportou cargas do porto do Guimarães (São Sebastião do Caí/RS) a Nova Vicenza
(Farroupilha/RS) e relatou aos seus descendentes, que seguidamente cruzava com Luís Bugre e sua
matilha de cães de caça, pelas cercanias de Nova Milano. Alegava, que o “Buga”
não era ruim. Apenas queria ser valorizado e rebelava-se ao ser discriminado,
ou excluído. Apreciava falar sobre suas
caças.
Meu outro
bisavô paterno, Francisco Xavier Boeni, imigrante suíço, morou em São Vendelino, foi vizinho da família Versteg e também conhecia Luís Bugre. Consoante Gansweidt,(p.69 e 79) Xavier foi integrante da primeira expedição de resgate dos Versteg. O sogro de Xavier, meu trisavô paterno, "capitão" Carlos Schaeder, austríaco, agrimensor Imperial (Edital Jornal da Victória da Província do Espírito Santo de 01/07/1868), mediu os lotes da 3ª colônia (Garibaldi, Bento Gonçalves) e possivelmente também conhecia o indígena.
Meu trisavô materno, Frederico Otto
Grunitzky (Kronitzky), ex-Brummer, imigrante de origem polonesa; em 1868, ano do sequestro
dos Versteg, exercia a função de professor público (Campos
Netto, p.488), maestro
do coral de Santa Maria da Soledade (São Vendelino) e padre leigo (Kautzmann, Obra Montenegro de Ontem e de Hoje, fl 159). Indubitavelmente,
conhecia detalhes das andanças de Luís Antonio pelo lugarejo e da mesma forma, meus
bisavós maternos, Joseph Kronitzky e Maria Tiatton Dietrich (natural da República Tcheca), moradores da Linha
Boêmia, local próximo a Nova Milano.
Meu outro bisavô materno, Wenzel (Wenceslau)
Wartha, imigrante austríaco, Capitão do Batalhão de Infantaria Imperial (Montenegro), contraiu núpcias com Khetrin Kellner, imigrante austríaca, em 1897 foi removido, com sua
equipe, ao 5º Distrito - São Vendelino (Diário Oficial da União, exemplar nº
8979). De 1910 até 1924 foi subintendente de Santa Maria da Soledade (Campos
Netto, p.456). A partir de 1913 cumulou a função de subintendente com a de
subdelegado de Polícia de São Vendelino, Garibaldi (Campos Netto, p.465 e edital do Diário Oficial de 14/10/1913). Possivelmente, acompanhou parte da trajetória do indígena pela região.
Obs. Na época era praxe a realização de casamentos entre os filhos de integrantes do Exército Imperial, líderes comunitários, professores, comerciantes, agrimensores, ou administradores de colônias.
Rosa Maria B. Kaspary
Pesquisadora, poetisa e advogada
LUIS BUGRE
Rosa Maria B. Kaspary
1.
No alto da serra, na selva
Nasceu um grande guerreiro
Com ares de sorrateiro
Na tez, tatuagem marcante
Jovem, coroado aspirante
Em sua tribo era parceiro.
2.
Nicuó, seu velho cacique
Ceji, a pajé da aldeia
Em noites de lua cheia
Vagavam em plagas distantes
Por roças dos imigrantes
Colhendo cultura alheia.
3.
Naquela noite funesta
Em fila indiana marchavam
Arcos e flechas portavam
Sem suspeitar da cilada
Que em Feliz foi armada
Nas plantações, que
visavam.
4.
Roças de milho e mandioca
Com cordas foram cercadas
Pontas estavam ligadas
Na lata próxima ao leito
Com o tropeçar do sujeito
As bases foram acionadas.
5.
Donos munidos de rifles
Pelos arbustos rondaram
Cães em alvoroço,
avançaram.
Com seus latidos e gritos
Ladrões ficaram aflitos
No rio Caí se jogaram.
6.
No milharal esqueceram
Um menininho lesado
Por alemães foi tratado
Foi-lhe nomeado tutor
Um audacioso senhor.
Ficou aportuguesado.
Véu da Sina
(Luís Bugre)
Rosa Maria B. Kaspary
1.
Luís Antonio era seu nome
Durante sua adolescência
Somou uma vasta experiência
De ir à roça, não gostava
Com sua tribo negociava
Ia à serra com frequência.
2.
Trocou mel, peles e aves
Por espelhos, sal e cachaça
Exibia as peles da caça:
Seu orgulho, suas vitórias
Os parceiros dessas glórias
Eram doze cães sem raça.
3.
Foi morar em São Vendelino
Já com vinte anos de idade
Com a parceira, sem vaidade
No Canastra, na encosta.
A família não era exposta
Se isolou da sociedade.
4.
Ao seu chão, Campo dos Bugres
Com frequência retornava
Pelos matos se encontrava
Com os compadres e parceiros
Corresselva, aventureiros
Novidades lhes contava.
5.
Com o sequestro dos Versteg
Luís Antonio se ocultou
Temeroso, se mudou
À selva, em Nova Milano
Num rancho de chão serrano
Onde um mestre se tornou.
6.
Na demarcação dos lotes
Auxiliou agrimensores
Foi o guia dos senhores
Conduziu-os a Farroupilha
Avançou, seguindo a trilha
Doce berço de valores.
7.
Aos pioneiros italianos
Transmitiu sua experiência
Regras de sobrevivência
Caçar e colher pinhão
Acender fogo de chão
Os segredos da sua essência.
8.
Luís foi um guia bilíngue
Um rei dos matos serranos
Auxiliou e traçou planos
Viveu em tempos penosos
Prestou serviços valiosos
Foi parceiro dos Milanos!