terça-feira, 22 de agosto de 2023

A Casa da Sagrada Família

 


              No ano de 1291, ocorreu a transferência misteriosa da Casa da Sagrada Família de Nazaré, para a Croácia. Foi nessa casa, que Maria Santíssima recebeu o comunicado do Arcanjo Gabriel, anunciando que ela foi escolhida pelo Criador, para ser a Mãe de Deus e também foi nessa casa que Jesus cresceu.

         Em 1294, as três paredes da Casa Sagrada, juntamente com a janela da anunciação, desapareceram da Croácia e após algum tempo, inusitadamente, apareceram em Loreto, Itália, em local diverso. Posteriormente, foram removidas para outro lugar, onde foi edificada uma grande Basílica ao seu redor, atual Santuário de Nossa Senhora de Loreto, que recebe a visitação de milhares de peregrinos.

            Em Nazaré, onde permaneceram os alicerces da Casa Sagrada, foi construída a Basílica da Anunciação, que também é visitada por milhares de peregrinos, até os dias atuais.

              Giuseppe Santarelli, Frei Capuchinho, no Documentário “A Casa de Loreto”, refere que, após a verificação de dados históricos e arqueológicos sobre esse antigo e fascinante mistério da Casa Sagrada, foram realizadas pesquisas nos arquivos históricos do Vaticano, pelo estudioso Joseph Latoni, bispo de Dijon. Em 1900, foi encontrado um Ato Cartorial, que continha em seu teor a descrição da casa de Maria e relíquias da casa. Esses bens foram arrolados como parte integrante de um dote, para Felipe II, por uma família nobre e cristã, de sobrenome “Angeli”.

               Durante sete séculos acreditou-se, que anjos, mensageiros de Deus, haviam carregado a casa de Nazaré para a Croácia e da Croácia para Loreto. Após a realização dessas minuciosas pesquisas, foram encontrados indícios de realização do traslado do material por humanos, possivelmente pelo Exército dos cruzados.

                  Nada acontece por acaso! Nessa transferência da casa Sagrada, do Continente Asiático para o Continente Europeu, não houve prejuízo nas visitações em Nazaré, pois a Basílica da Anunciação continua recebendo milhares de peregrinos, da Ásia e da África. Em Loreto, a relíquia sagrada favoreceu a visitação de devotos europeus, bem como de romeiros dos continentes americanos.

 

                                              SITUAÇÃO COMPARATIVA

             Em 26 de maio de 1432, no Continente Europeu, em Caravággio, na Itália, a “Rainha dos Anjos” apareceu à Camponesa Joaneta.

              Em 1875, um dos pioneiros imigrantes italianos trouxe em sua bagagem uma imagem de Nossa Senhora de Caravággio, para o continente Sul Americano, atual Caravággio, Farroupilha, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

              No ano de 1879, foi erguida uma capela nesse vilarejo, em homenagem à Santa. No ano de 1890 foi edificada uma Igreja no local, elevada à categoria de Santuário em 1921, para acolher multidões de devotos, imigrantes europeus, seus descendentes e demais fiéis , que passaram a visitar o Santuário, para pedir graças, ou agradecer pelas graças alcançadas. O Santuário atual, concluído em 1963, revela-se pequeno para acolher as caravanas de devotos. 

 

                                                      Rosa Maria Boenny Kaspary

                                                      Pesquisadora, Advogada e poetisa

 

Referências:

Frei Capuchinho Giuseppe Santarelli, Documentário, “A Casa de Loreto”

cancaonova.com/nossa-senhora/devocao-nossa-senhora/nossa-senhora-de-loreto-o-misterio-do-traslado-da-casa-da-terra-santa-a-italia

https://caravaggio.org.br/pagina/historia-da-devocao

 

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domingo, 24 de abril de 2022

Imigrantes Italianos da Serra Gaúcha

 



               Os pioneiros imigrantes,Tommaso Radaelli, Stefano Crippa, Luigi Sperafico e suas famílias, chegaram em Nova Milano – Farroupilha/RS, no dia 20 de maio de 1875. O grupo emigrou da Itália para o Brasil, em busca de melhores condições de vida.

            Ao chegarem nos lotes demarcados pela Comissão de Terras, apenas encontraram um rancho “habitado por um índio chamado Luís Bugre, da Vila Feliz”. Do Caí, “até ao local onde deviam residir tiveram de caminhar a pé, trazendo nos ombros as suas bagagens.” (1)

               Com o auxílio de Luís Bugre, que era bilíngue, os italianos aprenderam a caçar, preparar alguns tipos de caules, frutos comestíveis, chás e formas de se protegerem do frio rigoroso e dos animais selvagens. Também “ajudou-os a construir os seus casebres”. (2) 

            Três semanas depois da vinda dos pioneiros italianos, outras famílias, procedentes da região de Milão, instalaram-se em Nova Milano. “No ano seguinte o governo mandou construir um “barracão” para abrigar os imigrantes”.(3) As bagagens, crianças e os mais frágeis, que antes eram carregados nos ombros, passaram a ser transportados nos lombos das mulas. Em poucos meses “o barracão dos imigrantes estava apinhado de gente, que aguardava colocação”. (4)

                “Durante 14 meses os primeiros colonizadores receberam do governo o auxílio diário de 700 réis (correspondiam a 70 centavos em moeda da época, em 1950)”. Os italianos de Nova Milano “a princípio procuravam mantimentos em Feliz, na casa de um tal Kaspary”.(1 e 5) Para buscá-los, enfrentaram uma longa jornada de aproximadamente 60 quilômetros, de ida e volta.

               Em 28 de junho de 1876, foi instalada a primeira turma de imigrantes italianos no Campo dos Bugres (Caxias), formada por cerca de 600 tiroleses, vênetos e lombardos. Essa turma tomou um rumo diferente dos pioneiros. Seguiu por Vale Real até Galópolis, onde permaneceu acampada, na base do Morro Cristal, por cerca de seis meses, aguardando a medição e liberação dos lotes. (6)

               Em 1878, os lotes de “Caxias do Sul e Farroupilha estavam povoados por  2.315 imigrantes italianos, vindos de Belluno, Treviso, Pádova, Mantova e 1.007 tiroleses. (7) Eram devotos fervorosos de Nossa Senhora de Caravaggio e deixaram um grande legado às futuras gerações.

            Todos foram batalhadores, todavia nem todos tiveram a mesma sorte, ou oportunidades. “Quantas comunidades desapareceram e, para cada vencedor, milhares de homens e mulheres não conseguiram “fazer a América”, e certamente não lhes faltou coragem, honestidade e trabalho”. (8) 

                    CONTRIBUIÇÕES DOS GERMÂNICOS DO VALE DO CAÍ

               Os primeiros imigrantes alemães chegaram a São Leopoldo/RS, a partir de 1824. Os germânicos, que se instalaram no Vale do Caí, a partir de 1846, próximo aos primeiros contrafortes da serra, chegaram vinte e nove anos antes dos pioneiros italianos da serra e passaram por situações semelhantes.

              O povo germânico, de Alto Feliz e Feliz, muito contribuiu com a construção e o abastecimento do núcleo de “Nova Vicenza” (Farroupilha). No início, os imigrantes do “Campo dos Bugres” (Caxias), também buscavam os seus mantimentos em Nova Vicenza.

            O transporte de mercadorias era realizado pelos carreteiros, por estradas precárias, do Porto do Guimarães de São Sebastião do Caí, pelo íngreme Morro das Batatas, até Nova Vicenza (Farroupilha). As cargas normais eram tracionadas por três pares de mulas e as mais pesadas por cinco pares.

                A GRANDE TRAVESSIA NAVEGAÇÃO E CAMINHOS 

             Os italianos, que se estabeleceram na Serra Gaúcha, partiram do Porto de Gênova/Itália, realizaram a grande travessia pelo Oceano Atlântico,.”após “trentasei giorni di macchina e vapore” aportaram na Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, onde permaneceram de quarentena, no alojamento para imigrantes. Cumprido o prazo, seguiram para o Sul do Brasil a bordo do navio da Companhia Nacional. Essas viagens duravam de dez a doze dias.

            Do Porto de Rio Grande foram conduzidos, por outras embarcações, até o bairro Cristal de Porto Alegre, onde ficavam numa antiga propriedade provincial, até a chegada de um novo grupo de hóspedes. Apesar das “levas” de imigrantes serem numerosas, mais de cem cada, partiam da Capital em pequenos “vapores”: pelo Rio Guaíba, Jacuí e após, pelo Rio Caí até o Porto do Guimarães. Em São Sebastião do Caí ficavam na casa do imigrante, até a chegada de outra turma. (09)

              O Porto do Guimarães foi inaugurado em 1875,  para facilitar o transporte dos imigrantes italianos e suas bagagens, porém logo apresentou deficiência. Quando as águas do rio Caí baixavam, os vapores não chegavam até o Guimarães, por falta de calado, ocasião em que os passageiros desembarcavam no porto de Montenegro. Dali seguiam em pequenas lanchas, até o porto de São Sebastião do Caí. Somente 31 anos depois, em 1906, foi solucionado o impasse, com a inauguração da barragem Rio Branco, uma eclusa que permitia a navegação com eficiência, até o Guimarães.

            A partir de São Sebastião do Caí, iniciavam-se os deslocamentos por via terrestre, até Nova Milano. Seguiam pela Estrada Rio Branco, onde “as primeiras vozes soavam, no caminho pela floresta”,(10) passavam por Vigia e Escadinhas/Feliz. Faziam a travessia do Rio Caí, no “Passo da Boa Esperança”, local onde foi instalada a ponte de ferro, importada da Bélgica em 1900. Cortaram o centro de Feliz, pela Rua Santa Catarina, e subiram o Morro das Batatas até a Capela Santo Inácio/Alto Feliz. Dali seguiram até o destino indicado. (12/16) 

                                               Rosa Maria Boenny Kaspary   

                          Pesquisadora, Advogada, Poetisa (nome literário: Rosiê Boenny)   

 

 

VIVÊNCIA DE UM POVO IMIGRANTE

                                    Autora: Rosiê Boenny

1 -Pelas águas do oceano e por rios        4 – Se banharam em águas cristalinas       

Navegaram nossos ancestrais                 Apreciaram jardins multicores 

Aportaram nos portos dos Vales              O gorjeio das aves em festa

Com fé e esperança                                 Com os frutos da terra ...

Em busca de um lar!                                 Vivência sem-par! 

 

2 -Se abrigaram em moradas precárias    5- Transmitiram aos seus descendentes

Em barracos e em hospedarias                  Um legado de prosperidade.

Enfrentaram caminhos penosos                 As memórias das belas cantigas

Orando, cantando ...                                   Histórias da Europa... 

Buscando alegrias!                                     Lembranças perenes!

 

3 -Galgaram o “Batatenberg”

Lá no Alto Feliz contemplaram

Vales, morros entrecortados,

Colinas, cascatas...

Encantos da serra!

            Porto do Guimarães de São Sebastião do Caí/RS, degraus “pisados” por milhares de imigrantes! 

                                                               

                 Estrada do Morro das Batatas, chão acariciado pelos pés de centenas de  imigrantes!

                                           

 Igreja Santo Inácio (atual Capela), foi inaugurada em  1874, local onde foram realizados os batizados dos primeiros filhos dos imigrantes da serra.(11)  (Obs.imagens acima foram fotografadas por Rosa M.B.Kaspary)

 1 FORTINI, Archymedes. O 75º aniversário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul, 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 1950.

2 BARBOSA, Fidelis Dalcin Barbosa. LUIS BUGRE o Indígena Diante dos Imigrantes Alemães. Porto Alegre: EST, 1977.

3 GARDELIN, Mário; COSTA, Rovílio. Os povoadores da Colônia Caxias. Porto Alegre: Sulina, 1992.

4 Tcacenco, Maria Adami. Heroicos Imigrantes. Porto Alegre: ESTEF, 1986.

5 Museu e Arquivo Histórico Visconde de São Leopoldo, imigração alemã no RGS, Livro 1. Os irmãos Kaspary, Johann e Nicolau vieram da Prussia para o Brasil, em 1846.  

6 CHIARELLO, Natal. Breve História de Minha Terra.Caxias do Sul: Pró Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa.UCS, 1985.

7 Relatório do Serviços de Imigração e Colonização da Província do Rio Grande do Sul aos Ministérios e Secretarias de Estado e Negócios da Agricultura Comércio e Obras Públicas, elaborado pelo Engenheiro Manuel Maria de Carvalho, apresentado ao Império,1878.

8 FAVARO, C. E. Amor à italiana. O real e o imaginário nas relações familiares na região da Colonização Italiana do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST, 1987.

9 PELLANDA, Ernesto. Aspectos Gerais da Colonização Italiana no RGS. In: Álbum Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização Italiana no R.G.do Sul. Porto Alegre: Globo, 1950.

10 GARDELIN, Mário. “Apresentação”.... E cantavam. Caxias do Sul: São Miguel, 1980.

11 Arquivo Histórico da Mitra Diocesana de Porto Alegre – Livro de Batizados da antiga Igreja Santo Inácio da Feliz.

12 Após, passaram pelo centro de Alto Feliz e seguiram até São Pedro, até o local onde a Comissão de Medição de Terras estava acampada. Havia água e espaço para descansar. Até a Linha Boemia (Farroupilha), o percurso era de cerca de 3 km, pelas estradas carroçáveis dos tchecos. Depois desse trecho, enfrentaram mais uns 10km até Nova Milano, pela picada, aberta pela Comissão de Medição de Terras.

13 Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Relatório do Serviços de Imigração e Colonização (...) 1886 (7): De 1873 a 1877 a Comissão de Medição de Terras permaneceu acampada em São Pedro da Feliz, a mando do governo, para a realização da medição dos lotes, a serem destinados aos imigrantes italianos. Iniciaram a medição por Nova Milano e após, Nova Vicenza (Farroupilha). Em 1877 a Comissão de Terras foi transferida à Quinta Légua (Caxias). Nova Milano, a primeira região a ter seus lotes vendidos foi povoada por milaneses e a região de Nova Vicenza (Farroupilha) foi povoada por vicentinos, trevisanos e trentinos.

14 MASSON, Alceu. Caí (Monografia). São Sebastião do Caí: Kusminskye Ely (Edição da Prefeitura Municipal de Caí), 1940): Os imigrantes destinados a Garibaldi e Bento Gonçalves, aportaram em São João do Montenegro e ficaram alojados numa  hospedaria no centro.

Após, saíam dali, passavam por Maratá, Poço das Antas, Linha Francesa, Barão e Carlos Barbosa, até o destino final. “O trajeto era extremamente perigoso, completamente desabitado, cheio de inço e cipós, que desenvolveram-se rapidamente pelas íngremes montanhas e beiras de precipícios”.

15 Relatório Serviços de Imigração 1886 Algum tempo após a vinda dos pioneiros milaneses, os destinados a Garbaldi começaram a navegar até o Guimarães e de lá passaram a realizar o mesmo trajeto dos demais, porém faziam a travessia do rio Caí antes, no Passo do Selbach, em Bom Princípio, depois seguiam por estradas carroçáveis, ladeadas por lotes habitados, desde 1857, por imigrantes alemães e de outras nacionalidades. Seguiram por Santa Teresinha, São Vendelino, Santa Clara, Carlos Barbosa, até o destino final. Em 1888, com a inauguração da Estrada Buarque de Macedo, que ligava a serra a  Montenegro (atual BR 470), a qualidade de vida dos imigrantes de “Conde D’Eu” e “Princesa Isabel” melhorou.      

16 A 4ª Colônia, Silveira Martins (território pertencente à Região de Santa Maria), passou a receber levas de imigrantes italianos a partir de 19/05/1877. Engloba os atuais municípios de: Silveira Martins, Ivorá, Faxinal do Soturno, Dona Francisca, Nova Palma, Pinhal Grande, São João do Polesine e partes de outros municípios.                                                      

             Nossa Senhora de Caravággio, rogai por nós e intercedei a Deus por nós!

               “Salamu Alaikum!”  Yeshua (Que a paz esteja sobre vós). Amém.